segunda-feira, 12 de setembro de 2011

Musicografia braille insere cegos no mercado de trabalho

OMB ensina partitura para músicos que só tocam instrumentos de ouvido.

Felipe Augusto Diogo
A Ordem dos Músicos do Brasil (OMB) possui em sua unidade paulista grupos de estudo de musicografia braille. O objetivo é levar às pessoas cegas aprendizado musical teórico, ou seja, escrita e interpretação de partituras em braille e, consequentemente, direcioná-las para o mercado de trabalho da área.
Para o presidente da OMB-SP, maestro Roberto Bueno, a pessoa com deficiência visual possui, na maioria das vezes, ouvido absoluto. O dom permite que o músico aprenda a tocar instrumentos somente ao ouvir uma melodia, o que não é suficiente para trabalhar numa orquestra ou numa banda profissional, por exemplo. Para ingressar no mercado de trabalho profissional é imprescindível conhecer música na partitura.
Marcela Trevisani é um exemplo dos benefícios do grupo. Ainda aluna, a pianista já ajuda na monitoria de alunos do curso e foi indicada para tocar profissionalmente pelo presidente da OMB.
O projeto existe há quase dois anos e conta com a parceria do instituto Laramara, que doou máquinas em braille para que os alunos possam usá-las em sala de aula. O grupo da OMB recebe alunos de todo o Estado de SP, desde que o interessado tenha como se transportar.
“A musicografia braille teve início no século 19, por meio de Luiz Braille, inventor do código para cegos e que também era músico, em Paris, na França. O método chegou ao Brasil, primeiramente, no instituto Benjamim Constant, no Rio de Janeiro, e se espalhou por toda a America Latina”, explicou a professora Isabel Bertevelli.
A musicografia para cegos chegou a São Paulo na década de 1920, trazida pelo professor Alfredo San George, do instituto de cegos Padre Chico. Na mesma década, foi adotada no instituto de cegos da Bahia.
“Naquele tempo, o método tinha uma forma precária. Não havia precisão, mas apenas o manual internacional de musicografia, fruto de conferências como a de 1888, em Colônia, na Alemanha, e depois na França e demais países, até chegar ao método que temos atualmente, com este formato do ano de 1992, que foi transcrito para várias idiomas”, completou Isabel.
A musicografia passou a ser mais conhecida em São Paulo na década de 1950, por meio do professor Zoilo Lara de Toledo, da fundação para o livro do cego, atual Dorina Nowill. Zoilo ensinava música e, atualmente, trabalha na produção de livros de musicografia.
Só em 2004 o manual mais recente foi transcrito para a Língua Portuguesa. No Brasil, há cerca de dez professores que dão aula do método.
A professora de piano Jacira de Almeida Prado resolveu aprender a musicografia braille após ser convidada para dar aulas do instrumento no instituto de cegos Padre Chico. A professora declara que começou seu interesse pelo braille devido à necessidade de passar os exercícios para seus alunos, que já aprendiam a ler as partituras com a professora Isabel. Antes, Jacira ensinava os alunos só pelo solfejo, cantando as notas musicais, ou tocando compasso por compasso no piano de modo que os alunos as memorizassem.
Jacira foi professora de Vagner Pereira da Silva, aluno do Padre Chico, que se destacou e foi convidado para fazer uma apresentação em Londres, na Inglaterra, em 2007. O músico viajou a convite da ONG Anjos do Brasil. Atualmente, Vagner estuda piano no conservatório do Zimbo Trio, em São Paulo, dedicando-se especialmente aos ritmos bossa nova, jazz e blues.
Interessados em aprender a musicografia braille ou em obter mais informações sobre o método podem procurar a OMB-SP pelo site ou pelo telefone (11) 32370777.



Fonte: Rronline
10/09/2011

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