terça-feira, 17 de abril de 2012

Passeando na Reatech 2012 – Capítulo 1: Aeroportos

Adriana Lage comenta sobre seu final de semana em São Paulo. No texto de hoje, fala sobre os problemas e facilidades encontradas nos aeroportos por onde andou.

Adriana Lage
Dei uma de maluca e resolvi matar meu desejo indo à Reatech. Viajei no sábado cedinho, voltando no domingo à tarde. A amostra paulista foi muito boa! Agora vou voltar com mais calma para conhecer melhor a cidade. Devo confessar que sou mesmo apaixonada pelo sotaque paulista! É muito gostoso... No texto de hoje, vou comentar sobre os aeroportos por onde passei.
Aeroporto de Confins/MG
BH virou um canteiro de obras. Estamos vivendo dias de trânsito caótico! O Aeroporto de Confins está sendo reformado para a Copa do Mundo. Para piorar, estão implantando o BRT na capital mineira. Com isso, o Aeroporto, que já era longe do centro da capital, ficou ainda mais longe!
Na ida para São Paulo, não tive problema algum. Como sempre comento nos meus textos, Confins é um aeroporto com uma boa infraestrutura para pessoas com deficiência. Temos flingers, elevadores, piso tátil, balcões rebaixados, banheiros adaptados, etc.
Viajei numa companhia aérea, vermelha e branca, que, até onde eu sei, é a única a oferecer o cinto de segurança, igual ao dos comissários, para pessoas com pouco equilíbrio. Ele fica numa bolsinha azul claro. A orientação que recebi no serviço de 0800 da companhia aérea foi que preenchesse o formulário MEDIF solicitando esse cinto. Só que, quando fiz isso, a atendente, extremamente mal informada, me disse que só poderia viajar numa maca e, para tanto, deveria comprar 6 passagens, equivalentes ao local da maca. Não fiz isso, é claro. Sempre que entro no avião, solicito o cinto à tripulação. Até hoje, após várias viagens, nunca tive problemas.
Uma coisa que tem me entristecido é o treinamento, ou melhor, a falta dele, nos funcionários de solo que atendem às pessoas com deficiência. A cada dia, estão mais desinformados. E isso vale para todos os cantos do país. Quando peço um assento nas primeiras filas e cito a Resolução 009/2007 da ANAC, parece que falei mandarim! Em alguns casos, só o gerente mesmo para me salvar. O pior de tudo é o carregamento. Para embarcar em Congonhas, o funcionário, de 1,90m e bem musculoso, pediu ajuda à comissária para realizar minha transferência. A comissária ajudou, na maior boa vontade, carregando minhas pernas. Outra comissária se revoltou e puxou a orelha do musculoso. Falou que o pessoal de solo é que deve realizar as transferências, ressaltando que isso não é serviço da tripulação. Quando desci em Confins, o pior de tudo! Momento tenso... O funcionário que veio me carregar já chegou com cara de perdido. Minha mãe ensinou a ele o que e como fazer. Doce ilusão. Sei lá o que ele entendeu que me deu um abraço pelas costas, me carregando pelas coxas. É claro que isso não poderia acabar bem! Quando dei por mim, já estava caindo de cara no chão. A única coisa que encontrei para me segurar foi a gravata do menino! Não pensei duas vezes em agarrá-la. Nessa hora, é claro que não me lembrei que, puxando a gravata, apertaria o pescoço do funcionário. Só não caí porque outro funcionário me puxou pela blusa. Foi por pouco. O coitado do menino que me carregou ficou vermelhinho e desorientado. Em Confins, o cadeirante desce, por um elevador estreito (só cabe a cadeira e o funcionário), até o desembarque para pegar as malas. O desorientado entrou comigo pelo embarque, passamos pelos detectores de metais, pegamos o elevador comum até o térreo e solicitamos permissão do segurança para entrarmos no desembarque! Tive que mandar email para a companhia aérea comentando sobre esses incidentes. Esse problema da transferência da cadeira de rodas para a poltrona tem sido recorrente... Vou ver o que o presidente me responderá.
Aproveitando o assunto, fiquei de castigo no atendimento online de outra companhia aérea, a laranjinha e branco, famosa pelos lanches escassos. Após meia hora de espera, a funcionária me pediu um momento para verificar se a companhia já possui o cinto para tetraplégicos. Mais alguns bons minutos se passaram até que ela me pediu mais um momento. Magicamente,o atendimento foi encerrado! Mandei email para a companhia e retornei ao atendimento online. Após nova espera, fui informada pela atendente que eles só disponibilizam cintos convencionais e, em algumas aeronaves, é possível o embarque com maca. Ou seja, a Resolução existe desde 2007 e, até hoje, nada de ser cumprida! O máximo que já consegui junto a essa companhia aérea foi o desconto de 80% na compra da passagem do meu acompanhante. Para isso, precisei ir ao médico para que ele preenchesse o MEDIF e também preenchi um formulário. Só que, fazer isso a cada viagem, é extremamente desgastante! Seria tudo muito mais simples se as empresas aéreas cumprissem a lei.
Vale ressaltar que, na companhia vermelha e branca, existe também um cinto especialmente desenvolvido para obesos. Minha dica é optar, sempre que possível, por essa companhia. Não mexer com o 0800 e só solicitar o cinto dentro da aeronave para a tripulação. Até hoje não tive meu pedido recusado. Verdade seja dita, ficará bem feio se recusarem. E, tendo o pedido recusado, façam escândalo nas turbulências e, sobretudo, no pouso. A descida é sempre tensa para quem possui pouco equilíbrio no tronco. Se ninguém me segurar, caio da cadeira!
Quanto ao não cumprimento da Resolução da ANAC, o pior de tudo é não ter onde reclamar. Para terem uma ideia, tenho uma reclamação, aberta em 2008, junto à Infraero, sobre esses problemas e o transporte da cadeira motorizada. Ainda não fecharam minha reclamação. Sempre dou uma cutucada e nada. Nas inúmeras vezes em que reclamei sobre o treinamento precário e sobre os assentos das primeiras filas, virou um jogo de empurra-empurra. A companhia aérea sempre dizia que os funcionários não relataram nenhum problema e que seguiram as normas exigentes. Já recorri a fotos e testemunhos. Nem assim consegui nada! Depois que até a Deputada Mara Gabrilli ficou de castigo no avião, por não haver flinger ou ambulift para que não fosse carregada pelas escadas, só Deus mesmo para ajudar a nós, meros mortais anônimos!
Aeroporto de Congonhas/SP
Nunca tinha ido a Congonhas. Não tive problemas. Desci pelo flinger e estava tudo funcionando perfeitamente. A única coisa ruim da viagem são as turbulências. O avião sacode igual meu coração quando se apaixona por algum paulistano. Os vinte minutos finais do voo para SP foram tensos, assim como os primeiros minutos da volta pra casa. No ano passado, quando estive em Guarulhos, mais turbulências! Essa parte me dá medo.
Achei muito interessante o fato de existirem vagas pintadas por todo o chão do aeroporto para que o cadeirante possa ficar.
Outro fator interessante são os banheiros adaptados. Muito bacana, com botão de emergência e tudo! Quase cai em tentação de testá-los... O único problema, para mim, é o fato do vaso ter aquele buraco no meio, geralmente para que usa sonda ou precisa de ajuda. Eu não consigo me equilibrar direito neles. A única forma de passar menos aperto é me sentando de lado.
Em Congonhas, não usaram nenhum detector de metais comigo. A funcionária me revistou manualmente. Para isso, usou luvas descartáveis e me perguntou se eu queria ir à cabine ou se preferia ser revistada em público. Como achei muito estranha a revista feita numa cabine no Aeroporto de Brasília, preferi fazer no meio do povo mesmo. A outra funcionária brincou que ficaria de olho na colega. Eu ri e completei: “melhor mesmo. Vai que ela me achou bonita e vai tirar umas casquinhas de mim...”.
Por todo o aeroporto, temos telefones rebaixados e balcões de informação para cadeirantes e pessoas de baixa estatura.


Fonte: Rede SACI
São Paulo-SP, 17/04/2012

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